● Shine On Le Papier: Order XIII - 3.ª Parte

29 abril, 2016
Echoes passava da marca dos 20 minutos quando o Mustang entrou em Ivalice. Papier decidira investigar a misteriosa arma demoníaca com que Craft alterara as memórias de MoonShine e dos agentes ARM e ninguém mais qualificado para lhe fornecer informações que um Demónio veterano como era Kaiser T. Daemon - contra quem já lutara... para depois se aliarem contra um inimigo comum... o habitual...
MoonShine fizera boa parte da viagem em silêncio, sentindo-se ainda confusa e culpada pelo desaparecimento de Storm, muito embora Papier a tenha tentado animar como podia, cantando de forma atrapalhada e contando piadas idiotas, o que acabou por fazer com que ela se abrisse um pouco e por fim sorrisse e deixasse o jovem bastante feliz. A verdade é que a jovem ainda era atormentada por pesadelos, pese o seu esforço para os ocultar... e havia uma imagem recorrente em todos eles... o momento em que saiu de casa, e Storm lhe ofereceu a Eclipse, a sua foice de lâminas azuis. A última memória que tinha do pai.


Moon sempre adorou o pai, e este passava sempre todo o tempo que podia com ela, mas como Mestre que era, viajava muito pelo mundo, viagens através das quais conheceu e acolheu Papier e Slash como aprendizes e nas quais enfrentaram personagens impressionantes, mas não havia nada que gostasse mais que voltar para a sua filha e divertir-se com ela, ficando sempre orgulhoso de todos os seus progressos e do seu crescimento como mulher.
Foi com esse orgulho, mas também com o coração apertado que Storm viu partir a jovem aos 17 anos, para concluir os seus estudos e, quem sabe, uma vida feliz e sem preocupações de maior. Quando se despediram, a Eclipse, artefacto que Storm descobrira nas suas viagens e com o qual Moon cresceu, foi-lhe oferecida embora esta há muito já lhe pertencesse, e assim pai e filha partiram por caminhos diferentes, sem imaginar que estes se cruzariam no futuro de forma tão trágica.
Pouco tempo depois de entrar na universidade, e devido às suas qualidades e inteligência muito acima da média, Moon foi recrutada pelos SHADE depois de visitar uma conferência de Anarcocapitalismo no Porto, onde encontrou Craft pela primeira vez.
Desejosa de deixar a sua marca no mundo e de contribuir para o tornar melhor, Moon não hesitou e juntou-se à Aliança onde passaria a década seguinte.

Nos meses e anos que se seguiram e inconsciente dos verdadeiros interesses dos SHADE, Moon foi decisiva em múltiplas investigações, ajudando a organização a reerguer-se mesmo depois de esta ser ferida com gravidade após múltiplos ataques por parte de Papier e dos seus Horsemen, até descobrir a teia de Máfia e corrupção na qual se encontrava presa.
Nesse tempo, Craft tornara-se extremamente perigoso e poderoso, mas também algo louco. Estava rodeado de personagens obscuros e estranhos, e forjavam planos cada vez mais sombrios, até ao momento em que descobriu aquele artefacto. Aparentava ser uma espécie de ceptro, totalmente feito de metal verde, de aspecto frágil, com uma pequena pedra negra no seu topo, coberto de inscrições numa linguagem antiga e desconhecida. Vinha acompanhado de uma pedra negra lodosa coberta das mesmas inscrições estranhas. Depois disso tudo mudou.
MoonShine reuniu com Craft para pedir transferência. O seu espanto foi notório quando encontrou o seu chefe com uma aparência completamente diferente daquela que conhecia. Craft era agora um homem extremamente pálido e magro, com olhos pequenos e encovados, rodeados por olheiras negras, dando-lhe um ar cansado que contrastava com o seu olhar penetrante e atento. A Ordem XIII e Craft em particular não podiam deixar escapar alguém tão valioso como Moon, mas esta não podia ficar contra a sua vontade, isso limitava a sua utilidade, por isso, acedeu ao pedido de Moon com um sorriso, mas garantiu-lhe que ela iria mudar de opinião. Tocou no pequeno ceptro e a pedra negra pareceu escurecer ainda mais, desprovendo Moon da sua vontade e tornando os seus olhos brilhantes numa sombra baça daquilo que eram segundos atrás.

Desde esse dia até acordar no escritório de Papier, as memórias de Moon estão praticamente desfeitas. Como se uma enorme parede tivesse rodeado e prendido a sua alma, e por mais que ela se debatesse, o máximo que conseguia fazer era provocar pequenas rachaduras nos inúmeros tijolos que a constituíam, podendo apenas observar fragmentos das suas acções, antes da parede se recompor deixando-a novamente na obscuridade, sem qualquer controlo ou noção do seu destino.
Graças a Storm, no entanto, Moon estava finalmente livre e possuía um novo propósito: resgatar o pai e recuperar os momentos que perdeu enquanto esteve prisioneira de Edward Craft. E para isso vai poder contar com a pronta ajuda de Papier e do relutante Slash. Os aprendizes tornaram-se finalmente Mestres e estavam prontos para fechar o círculo.

Papier chegou ao pequeno edifício ao fim da tarde, e entrou casualmente à procura do apartamento, seguindo os inconfundíveis sons escandalosos do grupo, e que agora provinham do outro lado da porta à sua frente. Moon estava curiosa com os gritos desesperados que ouvia, mas Papier não estava propriamente surpreendido. Hesitantemente, bateu à porta e os gritos cessaram pouco depois, quando um jovem dotado de um impressionante olho negro os atendeu.

Era Alexandre Drago, o companheiro inseparável de Kaiser, que fora atormentado e possuído pelo Demónio quando este chegou ao nosso mundo pela primeira vez. Alex provou o seu valor e ganhou o respeito do Demónio que agora o trata como igual, na medida do possível... embora muito provavelmente as coisas não tenham mudado assim tanto...
Alex mostrou-se muito feliz em ver Papier, que se tornara num bom amigo e de quem falava constantemente. Apressou-se a convidar o par a entrar e chamou Kaiser com um grito, começando a guiá-los para a sala. Moon notou com preocupação que Rafa, um dos amigos de Alex, estava deitado no chão, aparentemente inconsciente; Papier concluiu que os gritos que ouvira antes eram dele e serenou a jovem garantindo que estava tudo bem, provavelmente.
Do sofá ergueu-se Lily, uma Demónio protegida de Kaiser que também morava lá em casa, o que explicava o rapaz estendido o chão.
Lily era uma Demónio de gelo e por isso gostava de usar pouca roupa, o que para Rafa, um verdadeiro engatatão, representava uma tentação ambulante! Tentando agradar sempre que podia a todos os caprichos de Lily, não eram raras as vezes em que se tornava extremamente irritante, e era consequentemente colocado no lugar, o que certamente tinha acontecido momentos antes da chegada das visitas.
Estava também presente Lucas, o melhor amigo de Alex, mas estava tão embrenhado nos seus jogos online que era quase a mesma coisa se não estivesse.
Mariana e Diana, uma Anjo que passara a viver na Terra para melhor compreender a humanidade, também eram presenças assíduas na casa, mas estavam ausentes.
A presença destes personagens, que não eram de todo o que esperara encontrar, estavam a deixar MoonShine cada vez mais curiosa para conhecer o tão falado Kaiser, e a sua surpresa foi enorme quando por fim o conheceu. Kaiser saltou da marquise para a sala, a sorrir alegremente, surpreendido com a primeira visita de Papier em anos e cumprimentou-o ironicamente. Tinha o aspecto de uma bola flamejante, com uma espiral na testa, acima dos enormes olhos azuis, protegidos por óculos de sol. Estava claramente divertido.

Papier foi direito ao assunto, uma vez que não havia tempo a perder, e explicou a Kaiser a razão da sua visita e o perigo que Edward Craft e o seu Artefacto Demoníaco representavam. Kaiser ficou rapidamente sério à medida que ouvia Papier e Moon foi surpreendida mais uma vez, quando viu o Demónio completamente focado, agora com uma aparência completamente diferente; alto e magro, quase humanoide, não fosse o seu rosto flamejante e a cicatriz brilhante que pulsava no seu peito.
Quando Papier acabou de falar, Kaiser fez uma pausa e perguntou por fim se os jovens já tinham ouvido falar em Cthulhu?...


Os Mitos de Cthulhu contavam que a Terra primordial foi dominada pelos Grandes Antigos, criaturas terríveis que vieram dos recantos mais sombrios do Universo e que representam o próprio Caos, demonstrando que havia algo tão terrível e cruel lá fora que nos obrigava a ficar limitados à nossa realidade, sob pena de perder a sanidade, e Cthulhu era o maior representante desses seres.
O Culto de Cthulhu existe desde que a Humanidade foi criada pelos Grandes Antigos, e os venerou enquanto estes se mantiveram na Terra, na mítica cidade de R’lyeh, mais conhecida por Atlântida. Quando a cidade foi submersa, Cthulhu ficou aprisionado e adormecido lá dentro, e até hoje o Culto nunca desapareceu, seguiu com o objectivo de reerguer o seu senhor. Quando tal acontecesse, Cthulhu chamaria de volta os Grandes Antigos e estes dominariam a Terra.
Esta era a lenda...
O Ceptro que Craft descobriu é Despair, uma Arma que se diz controlar a Gravidade, e é um dos símbolos do poder da Criatura que segundo os mitos, quando observada, exerce uma tremenda influência na mente humana, desde o simples provocar de pesadelos até à completa insanidade ou, neste caso, a perda de memória e obediência cega. É uma Arma Amaldiçoada que não deve ser manejada levianamente, por se alimentar da alma do seu portador, o que também explicava o aspecto alterado do Líder da Ordem XIII. Mas isso não o tornava menos perigoso, provavelmente seria o contrário.

Papier ouviu Kaiser com toda a atenção, mas não estava totalmente crédulo. Tal teoria parecia incrivelmente rebuscada. Craft até poderia fazer parte desse Culto e poderia ter esperado o momento certo para acordar Cthulhu do seu sono de milénios, mas para o jovem, Craft era simplesmente louco. Perigoso mas louco.
Moon estava mais interessada em saber como reverter os efeitos da Despair, mas Kaiser não soube responder. A forma mais segura seria deixar o afectado inconsciente, mas não havia forma de confirmar se tal resultaria, da mesma forma que resultou com Moon. Destruir Despair seria a opção mais lógica mas nem isso era uma garantia.
De qualquer forma, mesmo com as novas informações de Kaiser, a missão do par não mudou, quanto muito ficou mais definida - Salvar Storm, derrotar Craft, destruir Despair e impedir o Chamado de Cthulhu.


Depois de se despedirem dos rapazes e dos Demónios, Papier e Moon voltaram ao Mustang, sem a certeza de terem ouvido boas ou más notícias. Obviamente enfrentavam um louco, mas isso podia não ser positivo para Storm. De qualquer forma, o facto de o mundo ainda existir era sinal que o plano de Craft ainda não tinha sido posto em prática, o que era claramente uma boa notícia... Saíram do edifício e encontraram Slash à sua espera, encostado ao Mustang.

Slash descobrira que Craft estava em Lisboa, mas preparava-se para partir para o seu navio aportado em Aveiro, para iniciar uma viagem marítima pelo Atlântico, o que batia certo com a história que tinham ouvido de Kaiser e que só queria dizer que ele estava mesmo à procura da localização de R’lyeh para reviver Cthulhu. Talvez não fosse assim tão louco.
Slash ficou então a par das revelações e concordou com o diagnóstico que Papier traçou de Craft.
Moon retorquiu que não estava interessada no estado mental do inimigo, queria apenas resgatar o pai, o que fez com que os rivais se entreolhassem e sorrissem, como que ouvindo Storm dizer aquelas mesmas palavras. Não havia mais nada a dizer.

O Mustang rugiu satisfeito, enquanto os riffs de Highway to Hell guiavam os jovens que deixavam Ivalice, avançando rumo a um mesmo destino...

Comentários
2 Comentários

2 Comentários :

  1. Denim disse... :

    Cada vez melhor! Trippy:P

  1. Room401 disse... :

    Awesome venha o final!

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