● Shine On Le Papier: Order XIII - 2.ª Parte

22 abril, 2016
O silêncio imperava no escritório perante a declaração de Slash. Papier achava difícil de acreditar que Creedence Blackmore, o líder dos S.H.A.D.E. pudesse ser surpreendido por qualquer inimigo de forma tão definitiva. Apesar de esgotado, Slash explicou os contornos dos eventos que se sucederam na madrugada anterior e que o deixaram naquele estado.

Desde o seu início décadas atrás, até à ascensão de Creedence Blackmore, os SHADE sempre se marcaram por uma procura incessante de poder. Mas a verdade é que desde o último confronto com Papier que os métodos implacáveis da organização Mafiosa se tornaram muito menos malignos, inclusivamente auxiliando a Divisão A.R.M. da Interpol no evento X-Over, tendo mesmo sido decisivos na vitória dessa dura e inesperada batalha, fruto das influências de Blackmore e Slash, o seu braço direito.
Os SHADE foram divididos em múltiplas células, denominadas internamente como Ordens, sendo a principal a Ordem Zero, designados por NeroSlayers, a guarda de elite de Blackmore, e terminando na Ordem XIII, o esquadrão de Operações Especiais, especializados em missões ocultas, espionagem e assassínio. Esta Ordem era liderada por Edward Craft, um homem discreto que sempre se manteve afastado das políticas levadas a cabo pelos SHADE; inclusivamente mantendo a neutralidade quando Dave Venom tentou tomar o controlo da Máfia. No entanto, a sua atitude foi-se alterando consideravelmente ao longo dos últimos meses e anos.

Craft não era adepto desta nova filosofia de Blackmore e depois do X-Over tornou-se cada vez mais alheio aos SHADE, algo que acabou por levar Blackmore a tomar medidas e pediu a Slash que o investigasse e à sua Ordem profundamente, sem dar nas vistas. O que Slash descobriu preocupou-os bastante, pois Craft estava a brincar com fogo... Passara os últimos anos a estudar todos os mitos que descobriu relacionados com Relíquias Demoníacas, e procurou incessantemente encontrar uma em particular que, tudo indicava, transmitia ao seu utilizador uma poderosa influência sobre a mente humana, mas tanto quanto se sabia, Craft ainda não a possuíra.

A surpresa maior veio quando Blackmore, na posse destas informações, partiu para confrontar Craft, apenas para se ver frente a uma rebelião por boa parte dos seus homens, que se voltaram contra ele, influenciados pelo líder da Ordem XIII.
Os NeroSlayers liderados por Slash fizeram de tudo para combater os motinados, mas eventualmente tiveram de dar a batalha por perdida. Até Slash se viu em dificuldades, numa luta muito intensa com uma jovem rapariga de cabelos negro-azulados e olhos inexpressivos, armada com uma foice dupla de lâminas azuis, que se mostrou intransponível.
Papier estremeceu ao ouvir o relato, mas a história ainda não terminara. Forçados a retirar, os NeroSlayers levaram Creedence para fora do edifício, mas não sem este ser baleado diversas vezes nas costas, deixando-o numa situação de gravidade extrema.
As últimas palavras de Creedence para Slash antes de perder a consciência foram no sentido de procurar Papier. Os NeroSlayers ficaram encarregados de cuidar e proteger Creedence e Slash voltou a Coimbra tão rápido quanto possível.


Storm parecia ter ganho alguma sobriedade e Papier não sabia o que pensar sobre as consequências de uma Guerra Civil no seio dos SHADE. A última guerra na Máfia tinha sido um problema que tinha repercussões até hoje...
Também ele contou imediatamente aos dois os acontecimentos por que passou em Aveiro, a arrepiante carga com que os soldados desapareceram e o seu combate com a misteriosa e bela rapariga, sem dúvida a mesma que enfrentara Slash.
A expressão de Slash continuava severa, mas foi a reacção de Storm que mais preocupou Papier. O mestre estava a suar frio, pelo que Papier pensou que a ressaca estivesse a atingi-lo, mas o seu olhar verdadeiramente assustador deitou esse pensamento por terra. O jovem tentou falar com ele, mas Storm não teve qualquer reacção... De seguida foi deitá-lo no sofá a descansar.
Papier não deixou de mostrar o seu pesar perante o destino incerto de Blackmore e garantiu a Slash que iria reunir com o General James Osbourne, líder dos ARM, para traçarem um plano contra a Ordem XIII, ao que Slash respondeu com silêncio, desaparecendo na noite.

Papier tentou sem sucesso comunicar com a sede da Interpol, em Lyon, mas por qualquer razão que desconhecia todas as tentativas saíram frustradas.
Sem perder tempo, preparou-se rapidamente para fazer a longa viagem, pegou num novo casaco, e preparou-se para partir quando Storm se ergueu do sofá, declarando que iria acompanhá-lo a Lyon. Papier achou a atitude do Mestre altamente irregular, mas não insistiu nem fez perguntas. Ele explicaria tudo o que lhe passava nos pensamentos no momento certo, mas a preocupação do jovem com o estado de Storm era evidente. Por outro lado, a sua presença ao seu lado dava-lhe muita confiança no seu sucesso, pois os talentos do seu Mestre eram inegáveis.
A viagem passou num ápice, pois após o amanhecer Storm voltara a ser ele próprio, animado e gozando constantemente com a condução segura de Papier, apelidando-o de velhinha e massacrando-o durante boa parte do caminho. Na manhã seguinte chegavam ao seu destino.

Papier saiu do Mustang e avançou para entrar no edifício, mas notou que Storm desaparecera. Encolheu os ombros e prosseguiu. Identificou-se na entrada e estranhamente o seu nome não constava no sistema. Obviamente teria ocorrido algum problema, mas como detective que era não podia acreditar em coincidências e por isso recuou, apenas para entrar sorrateiramente pouco depois.

Papier procurava os escritórios de AK-07 e Jon Park, velhos amigos e companheiros de muitas missões ao longo dos anos. Subiu até ao sexto piso, mantendo-se oculto das câmaras de vigilância e chegou por fim à Sala 66. Mais descansado, entrou casualmente no escritório e cumprimentou o seu par de amigos que se encontravam a trabalhar de forma incrivelmente séria, até àquele momento.
Sobressaltados pela presença de um intruso, os dois agentes levantaram-se com um salto e apontaram as suas armas a Papier que achou tal comportamento uma piada. Ainda esboçou um sorriso quando notou o olhar dos velhos amigos... vazio e desprovido de expressão, tal como a rapariga no porto. O sorriso morreu-lhe do rosto, enquanto tentava chamar à razão os velhos companheiros que agora o tomavam por criminoso, situação que o estava a levar à beira do desespero. Sem compreender nada do que se passava, viu-se forçado a recuar e percebeu que era procurado pela Interpol, e que o edifício fora selado, para que ninguém entrasse ou saísse.
Confuso, dirigiu-se em velocidade não para a saída mas para os andares superiores. Tinha de confirmar se o General Osbourne também se encontrava naquela situação inesperada, e para isso foi forçado a combater com os agentes que se aproximavam a cada corredor. Estava a subir a escada de acesso ao décimo andar quando AK e Park o confrontaram. Anos de aventuras e de amizade invencível não significavam nada neste momento em que Papier, ainda que contendo-se instintivamente, atacou os dois agentes que dispararam contra si com intenção de matar.
Esquivou-se dos tiros e golpeou os seus punhos, privando-os aos dois simultaneamente dos revólveres que empunhavam. Estes retaliaram e a forma como lutavam em conjunto e a fantástica dupla que criavam era exactamente a mesma que o jovem recordara desde havia tanto tempo. Esse conhecimento ajudou Papier a evitar e devolver os golpes dos oponentes, que mesmo assim não desistiam.
Conseguiu afastar Park, o mais talentoso em combate corpo-a-corpo, com um pontapé contra a parede, agarrando AK em seguida, fazendo-lhe uma gravata que após alguns segundos o deixou inconsciente. Deitou-o cuidadosamente no chão, mas nesta altura Park já estava recuperado e atacou rapidamente, não demonstrando qualquer emoção após a queda do companheiro. Papier evitou os ataques com todas as cautelas, consciente que Park acabaria por ficar exausto com tamanho ímpeto, momento por que esperou e que aproveitou quando surgiu. Park fraquejou e o jovem, rapidíssimo, atingiu-o com um golpe na nuca que o deixou sem sentidos. Ao ver os amigos caídos no chão, Papier sentiu-se preso num pesadelo, ansioso por acordar.

Chegava por fim ao escritório do General Osbourne, este rodeado por agentes da Divisão ARM. Papier, ainda afectado pela luta contra os seus amigos estava sem paciência para ser atrapalhado, por isso e para terminar com este jogo assombroso sacou pela primeira vez das suas Desert Eagles gémeas e deu início a uma dança de balas que explodiu por todo aquele espaço.
Com tanto cuidado quanto possível para não ferir mortalmente os agentes que se opunham a si, Papier usou as paredes para ziguezaguear e evitar os disparos, usando a sua velocidade para confundir os adversários que, não raras vezes, disparavam contra os próprios companheiros. Alguns segundos depois, o jovem era o único em pé.


Papier entrou no amplo espaço que era o escritório de Osbourne, com uma vista impressionante para a cidade, mas o seu olhar prendeu-se no trio que tinha à sua frente: a jovem rapariga que enfrentara no porto de Aveiro à esquerda; um homem de meia-idade, alto, de cabelo negro e extremamente pálido que concluiu tratar-se de Edward Craft ao centro; e o General Osbourne, sentado confortavelmente à sua secretária, fitando-o com o mesmo olhar inexpressivo que significava que estava sob a mesma espécie de efeito hipnótico que a jovem e os seus amigos. Papier exigia explicações e Craft, como o seu olhar arrepiantemente penetrante denunciava, era o único que lhas podia conceder, no entanto o líder da Ordem XIII manteve-se em silêncio. Dirigiu um gesto simples à rapariga e esta avançou. Papier preparou-se para o combate, mas travou-se quando ouviu o som de passos vindos do corredor, e no segundo seguinte David Storm irrompeu pelo escritório.

Storm estava sério como Papier há muito não o vira e o jovem compreendeu que havia ali alguma ligação que se mantinha oculta para si.
Dirigindo-se a Craft, o incrivelmente furioso Storm bramou num rugido querer saber o que ele tinha feito à sua filha MoonShine!
Papier estava em choque, Storm nunca falara do seu passado e tendo em conta a sua personalidade algo infantil, nunca o imaginou como pai de família, se bem que, bem vistas as coisas, era precisamente isso que o seu Mestre representava para ele e Slash. Igualmente inesperada foi a reacção de MoonShine ao ouvir o seu nome. Papier podia jurar que observara por um instante um brilho nos seus olhos, como se qualquer que fosse o feitiço sob o qual se encontrava, este tivesse sido quebrado momentaneamente, pois no instante seguinte a jovem já investia sobre aquele que declarara ser seu pai.
Storm foi rápido como um relâmpago e num ápice evitou o ataque de Moon e abraçou-a delicadamente, gesto que a confundiu, antes de desmaiar nos braços do pai.
O Mestre pegou na rapariga ao colo e confiou-a a Papier, para que este a levasse para casa até que ela recuperasse. Revelando que este era o efeito de uma Relíquia Demoníaca e que os seus efeitos não eram, em princípio, permanentes, manter-se afastada de Craft e dos poderes de tal Artefacto eram o remédio de que MoonShine precisava. Ordenou por fim a Papier que este partisse imediatamente.
Completamente dividido, Papier sabia que não podia desobedecer ao seu Mestre, mas deixá-lo sozinho contra um oponente tão misterioso e perigoso como Craft era um risco demasiado grande mas a jovem parecia estar ofegante e em sérias dificuldades. Compreendendo o dilema do seu aprendiz, Storm garantiu encontrá-lo em vinte e quatro horas mas, como tal promessa não foi suficiente, fulminou Papier com o olhar, dissipando quaisquer dúvidas da sua mente e o jovem, ainda relutante, virou-lhe as costas.

Papier chegara rapidamente ao átrio do edifício, pois todos os agentes haviam sido derrotados, cortesia de Storm, mas quando chegou à saída um vulto impediu-o de avançar. Jimi Slash esperava a sua oportunidade para se vingar do ataque a Creedence e MoonShine era o alvo da sua fúria silenciosa.
Compreendendo as intenções de Slash, mas duvidando seriamente que o rival conseguisse ser frio a tal ponto, Papier avançou enquanto o rival desembainhava a Battousai. Frente a frente, os aprendizes de Storm eram novamente adversários, uma sensação não de todo desconhecida. Papier pediu a Slash que fosse ajudar Storm na luta com Craft, uma vez que ele não podia sob pena de quebrar a sua promessa ao Mestre. Slash sorriu amargamente declarando que não podia fazer tal coisa. Papier contou a Slash da verdadeira identidade de MoonShine e da extensão conhecida dos poderes que enfrentavam, e foi difícil perceber qual das revelações surpreendeu mais o rival.
Papier aproveitou o choque do Homem de Negro para sair do edifício e Slash, sem dizer uma palavra, decidiu por fim avançar até ao Mestre.


MoonShine dormiu profundamente durante toda a viagem até Coimbra e depois disso continuava em repouso. Papier não conseguia estar tranquilo e sentia-se culpado pelo abandono do seu Mestre, mas que outra opção tinha? Não podia pisar no orgulho de alguém tão importante para si e que tanto lhe dera.
Algumas horas depois, Slash entrou no Grand Chaos, mas o alívio que Papier sentiu ao vê-lo depressa se dissipou quando este declarou que nunca chegara a encontrar Storm... Osbourne estava inconsciente no seu escritório e quando recuperou a consciência não só não tinha memória de nada do que se passara naquele dia, como simplesmente não o reconhecia.
Papier não estava surpreendido e agora restava-lhe esperar notícias. As vinte e quatro estavam quase a terminar quando finalmente MoonShine acordou. Ao sair do quarto, a rapariga observou os dois rivais, ainda confusa. Papier viu-a verdadeiramente pela primeira vez e não teve quaisquer dúvidas. Ela era simplesmente linda. E a chave de todo o mistério...

Comentários
2 Comentários

2 Comentários :

  1. Leather disse... :

    Muito fixe!

  1. Room401 disse... :

    Muito bom, sim senhor!!!

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